29/06/24
Em São Paulo, o tradicional reduto político do PSDB, o partido está dividido entre apoiar o atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), ou lançar candidatura própria com o apresentador de TV José Luiz Datena, uma imposição do presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo. Este cenário de divisão ocorre em meio a uma acirrada disputa judicial pelo controle do diretório municipal, que está sob intervenção da direção nacional desde setembro, com a presidência atualmente ocupada pelo ex-senador José Aníbal.
Ex-presidente do diretório paulistano Fernando Alfredo, afastado do cargo, continua defendendo a composição da legenda com o atual prefeito. Nas redes sociais, é chamado por apoiadores de "presidente de honra". Em campanha aberta pela reeleição de Nunes, Alfredo afirmou ao Correio Braziliense que o prefeito tinha um acordo político de apoio nas eleições de outubro e, por isso, manteve muitos correligionários do PSDB, herança da gestão de Bruno Covas, falecido em maio de 2021. "As pessoas que estão na prefeitura foram colocadas pelo Bruno Covas, e o Ricardo deixou lá porque estão fazendo um bom trabalho", disse Alfredo.
Subindo o tom, Alfredo realiza lives semanais com pré-candidatos do partido ao Legislativo municipal e mantém o apoio de tucanos no Executivo municipal. Acusado de depenar a sede do partido, Alfredo justifica que o mobiliário e os computadores eram emprestados por militantes que, após a intervenção, retiraram os equipamentos.
"Eu estou achando ótima essa novela no PSDB, que virou um partido cartorário, tem dono e não tem base. Isso começou com o Eduardo Leite (governador do Rio Grande do Sul), que nunca aceitou a vitória do (ex-governador de São Paulo) João Doria (à Presidência da República, em 2022), e depois, começou a perseguir todos que o apoiaram. Alguns dirigentes acham que o PSDB continua sendo aquele partido elitista que toma as decisões fumando cachimbos caros e tomando uísque", criticou Alfredo.
Com o impasse, a nova direção entrou com uma ação judicial pedindo acesso a contas bancárias, documentos contábeis e a cópia da chave do conjunto de salas que servia de sede municipal. A ação ainda aguarda a citação do ex-dirigente.
A legenda, que enfrentava cobranças por aluguéis atrasados, não ocupa mais o 8º andar do prédio na Vila Buarque, em São Paulo. Alfredo garante que só deixará o PSDB se for expulso e, apesar de criticar o comando nacional do partido, acredita no apoio da base paulistana.
Enquanto alguns tucanos, como Alfredo, veem com ceticismo a pré-candidatura de Datena, devido ao histórico de desistências do apresentador, outros setores do partido enxergam nele uma oportunidade de resgatar a força do PSDB em São Paulo.
Na maior cidade do país, os tucanos perderam a maior bancada do legislativo municipal após a janela partidária, com todos os vereadores eleitos na chapa Bruno Covas e Ricardo Nunes trocando de legenda. Para Alfredo, isso é um claro sinal de que a militância prefere apoiar a reeleição de Nunes.
"Mais de 80% da militância vai apoiar a reeleição do Ricardo Nunes, até porque não dá para acreditar que o Datena vai, finalmente, assumir essa responsabilidade no 11º partido pelo qual passa", criticou Alfredo.
O grupo que defende a candidatura de Datena e que Marconi Perillo faz parte garante que desta vez o apresentador está decidido a disputar as eleições. Ele teria fechado um acordo com a família Saad, dona da TV Bandeirantes, para se licenciar do programa que apresenta. Datena também não está preocupado em abrir mão do salário de R$ 600 mil da TV, mas condiciona a candidatura a não investir dinheiro do próprio bolso na campanha. "Não sou o João Doria", costuma dizer.
Datena é muito conhecido e, antes mesmo de anunciar a pré-candidatura na última semana, já aparecia em terceiro lugar nas pesquisas de preferência do eleitorado, empatado com a deputada federal Tabata Amaral (PSB).
Inicialmente cotado para ser vice na chapa de Tabata, Datena chegou a se filiar ao PSB, mas em abril migrou para o PSDB. Tabata pretendia uma coligação com os tucanos, que preferiram uma candidatura própria.
Descartando qualquer chance de aliança com a deputada, fontes do PSDB definem o movimento de Tabata como amador. "Não sei o que Tabata estava pensando, acho que o pessoal dela é fraco, seria difícil o Datena topar sair candidato, ainda mais como vice do PSB. É impossível, foi um movimento amador", disse um interlocutor ligado à direção tucana.
Apesar do histórico de desistências, Datena tenta ser levado a sério. No lançamento da pré-candidatura, afirmou que não considera desistir. "Realmente, sinto que tenho mais responsabilidade nesta campanha do que nas anteriores. Porque, desta vez, eu vou até o fim", disse.
Datena também falou sobre a nacionalização da campanha paulistana e pareceu deixar aberta a possibilidade de disputar outro cargo em 2026. "Aqui (em São Paulo), tem gente do Brasil inteiro, tem mais nordestino do que no Nordeste, tem mineiro, tem baiano, o país inteiro está aqui dentro. Por isso, eu digo, de peito aberto, que a eleição do Brasil passa pela eleição da cidade de São Paulo", afirmou Datena.