06/07/24
A expansão urbana de Goiânia, em vigor há dois anos, sob o novo Plano Diretor, tem aquecido o mercado imobiliário, mas também gerado desafios significativos em termos de mobilidade, meio ambiente e oferta de serviços. O crescimento desordenado e a falta de infraestrutura nas áreas recém-urbanizadas estão entre as principais preocupações da população e especialistas.
Desde o Plano Diretor de 2007, Goiânia vem enfrentando a complexidade de gerir uma macrozona urbana de aproximadamente 442 km². Naquele período, áreas rurais foram liberadas para novas construções, impulsionando o mercado imobiliário e gerando investimentos em periferias, especialmente em condomínios de luxo. No entanto, essa expansão trouxe problemas de mobilidade e planejamento urbano, com densidade populacional crescente e desafios ambientais.
O Plano Diretor de 2022, após intensos debates, não aumentou o perímetro urbano, mas criou um mecanismo para regulamentar a expansão. A Outorga Onerosa de Alteração de Uso (OOAU) permite a urbanização de certas áreas rurais, prevendo um aumento de 1,2 km² no território urbano nos próximos meses. O Paço Municipal deve receber cerca de R$ 2 milhões dos oito proprietários que se comprometeram a urbanizar suas terras, conforme termos publicados no Diário Oficial do Município.
A arquiteta e urbanista Erika Kneib, professora da Universidade Federal de Goiás (UFG), destacou ao jornal O Popular a necessidade de equilibrar áreas urbanas e rurais. Ela alertou que a ampliação descontrolada das áreas urbanas, sem infraestrutura adequada, pode levar a esvaziamento e degradação de regiões já consolidadas, criando problemas de mobilidade e altos custos para os municípios.
O presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Goiás (Crea-GO), Lamartine Moreira, reforçou que a expansão urbana deve ser planejada para oferecer infraestrutura necessária, como escolas, transporte, postos de saúde e saneamento básico. Ele enfatizou a importância de um crescimento sustentável, incluindo planos de drenagem urbana e controle de poluentes.
A história recente de Goiânia exemplifica os problemas do crescimento desordenado. Nos anos 2000, o complexo de bairros Jardins do Cerrado, na região Oeste, foi criado para abrigar populações de baixa renda, mas sem a infraestrutura necessária, distante de áreas consolidadas. A entrada do Jardins do Cerrado I, por exemplo, fica a 5,3 km do Conjunto Vera Cruz, o bairro mais próximo com infraestrutura na época.
O novo Plano Diretor e a OOAU visam evitar a formação de vazios urbanos, estabelecendo critérios técnicos para a urbanização, como a contiguidade e a presença de infraestrutura básica. João Victor Araújo, presidente da Associação dos Desenvolvedores Urbanos de Goiás (ADU-GO), acredita que a OOAU está funcionando conforme esperado, mas destaca que a cidade é dinâmica e o planejamento deve ser contínuo, escutando a população.
Presidente do Sindicato dos Condomínios e Imobiliárias de Goiás (Secovi Goiás), Antônio Carlos da Costa elogia a OOAU por permitir um crescimento urbano contínuo e gerando recursos para políticas públicas. Ele também alerta que a falta de lotes disponíveis no mercado é uma preocupação, apesar de a prefeitura apontar a existência de cerca de 100 mil lotes vagos.