Goiânia, 21/10/2024
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Fred diz que não há racismo no Brasil

15/10/24

Em uma declaração controversa e desconectada da realidade vivenciada pela população negra no Brasil, o então deputado estadual Fred Rodrigues (PL), candidato à Prefeitura de Goiânia, afirmou na Assembleia Legislativa de Goiás (Alego) que "não há racismo no Brasil". A fala mostra que o político desconsidera o histórico de desigualdade racial no país e a discriminação ainda enfrentada pelos negros. 

Fred Rodrigues, antes de ter seu mandato cassado pela Justiça Eleitoral, justificou sua opinião alegando que o Brasil é o "país mais miscigenado do mundo", onde, segundo ele, "brancos e negros se casam o tempo inteiro" e isso, segundo o ex-deputado, provaria que não existe racismo estrutural na sociedade brasileira. "Os descendentes é por isso que há tantos pardos no Brasil", disse Fred, sugerindo que a miscigenação seria um indicativo de harmonia racial.

Em um esforço para embasar sua fala, Fred Rodrigues também fez menção ao passado escravocrata do país, afirmando que "haviam negros que eram donos de escravos" e que alguns "vendiam seus irmãos africanos para os portugueses". Segundo ele, essa realidade histórica criaria uma "incongruência" em relação à ideia de reparação pela escravidão, levantando a questão de como seria possível distinguir, nos dias atuais, "os negros que eram donos de escravos dos que eram escravizados".

Essas declarações do então deputado mostram que ele ignora o contexto histórico e social do racismo no Brasil. Embora o país tenha uma longa história de miscigenação, o racismo estrutural permanece como uma realidade concreta que afeta diariamente a população negra, seja nas oportunidades de trabalho, na educação, ou no tratamento desigual por parte das instituições. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e de estudos acadêmicos mostram que negros e pardos ainda são a maioria entre as vítimas de violência, as pessoas em situação de vulnerabilidade social e os que enfrentam maiores dificuldades no mercado de trabalho.

Fred Rodrigues, ao minimizar o impacto do racismo e desvalorizar a luta por justiça social e reparações históricas, ignora a vivência cotidiana de milhões de brasileiros que enfrentam a discriminação racial em diversas esferas da vida. Suas falas refletem uma visão negacionista que desconsidera o fato de que a escravidão deixou marcas profundas na sociedade brasileira, e que essas marcas ainda reverberam em desigualdades raciais que persistem até hoje.


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