24/11/24
A Prefeitura de Goiânia enfrenta uma crise que vai além dos problemas financeiros habituais. Trata-se de uma combinação perigosa de orçamento superestimado, dívidas exorbitantes e necessidade urgente de reorganizar a máquina pública. A partir de 1º de janeiro de 2025, o prefeito eleito Sandro Mabel (União Brasil) terá pela frente o desafio de lidar com essa “bomba” administrativa, cuja complexidade ameaça comprometer áreas essenciais do serviço público.
Um dos primeiros pontos de atenção para a equipe de Mabel é a Lei Orçamentária Anual (LOA) para 2025, que projeta um orçamento de R$ 10,6 bilhões. A equipe de transição, no entanto, afirma que essa previsão estaria superestimada em pelo menos R$ 800 milhões, especialmente nas receitas do ISS e IPTU. “O projeto de lei apresentado não reflete a realidade financeira do município”, argumentou um membro da equipe do prefeito eleito.
Apesar da pressão, o atual secretário de Finanças, Cleyton Menezes, descartou enviar uma emenda substitutiva à Câmara Municipal para revisar as projeções. “O projeto apresentado é o que será mantido, não há previsão de alterações por parte da atual gestão”, afirmou Menezes, indicando que o desafio de equilibrar o orçamento ficará inteiramente para Mabel.
Além das incertezas no orçamento, o endividamento do município atinge setores cruciais. O Instituto Municipal de Assistência à Saúde dos Servidores (Imas) acumula dívidas que levaram hospitais parceiros, como o Jacob Facuri e o Infantil de Campinas, a suspenderem atendimentos. A dívida do Imas com o Hospital Jacob Facuri, por exemplo, ultrapassa 11 meses de pagamentos atrasados. “Sempre toleramos atrasos, mas chegou ao limite. Não há previsão de pagamento nesta gestão,” declarou Ibrahim Jacob Facuri, diretor do hospital ao jornal Opção.
Outro ponto crítico é a Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg), cuja dívida já supera R$ 1,5 bilhão. Apesar das frequentes crises envolvendo coleta de lixo e custos operacionais elevados, a empresa ainda desempenha papel estratégico na urbanização da cidade e conta com forte apoio dos servidores públicos que ajudaram a eleger Mabel.
Com a necessidade de equilibrar as contas, a equipe de transição estuda medidas drásticas, como fusão ou extinção de secretarias, redução de cargos comissionados e cortes em despesas diversas. Embora nenhuma decisão definitiva tenha sido tomada, a sinalização é de que o enxugamento da máquina será inevitável.
“O prefeito eleito sabe que precisa fazer ajustes para enfrentar o endividamento, mas cada corte precisa ser pensado estrategicamente, especialmente na relação com o Legislativo”, destacou um membro da equipe de Mabel.
Mesmo com uma base ampla na Câmara Municipal, construída durante a campanha, Mabel terá que equilibrar cortes e articulações políticas para garantir apoio às reformas necessárias.
Além de lidar com dívidas e déficits, o novo prefeito terá que resolver problemas estruturais, como a melhoria do transporte público e a ampliação dos serviços de saúde. “É um cenário complexo, mas com o planejamento certo, é possível reverter a crise,” avaliam membros da equipe de transição.